terça-feira, 6 de outubro de 2015

Atentemos ao Prólogo, ao eco de Abril

Eu disse no meu Facebook, na segunda semana de campanha, que “a bola está com o povo” e não errei. O povo português castigou os PaF, que mesmo assim tentaram disso fazer uma vitória. O povo português fortaleceu a CDU e o BE, não dando a maioria ao PS, forçando este último a, se quiser governar liderando, terá de fazer entendimentos à Esquerda.
O PS não tem maioria, nem sequer relativa. Mas o PS tem a maioria entre as forças da Esquerda (ou seja, pode liderar essas forças num entendimento de governo), e a Esquerda (unida jamais será vencida!?) tem a maioria absoluta no parlamento pós eleições legislativas de 2015.
Portanto, neste momento, em que CDU (onde eu votei) e BE estão alinhados nas questões macro-económicas (e, asseguro-vos, nenhuma destas forças políticas quer sair do Euro, nem no dia em que sejam empossadas como governo de coligação com o PS, nem dois anos depois, nem 4 anos depois – explicarei mais adiante porquê), em que os portugueses decidiram espalhar uma maioria absoluta por três partidos que se assumem como de Esquerda (como que a garantir que para eles governarem teriam de se entender), se surgir um bloqueio entre as forças de Esquerda, esse bloqueio é objectivamente gerado no PS. Se há 3 partidos e dois estão alinhados, se o terceiro não se abre ao diálogo real e sincero para tomarem conjuntamente as rédeas do país, ainda em profunda crise, para resolver essa crise com soluções de esquerda (visto que as de Direita falharam), então objectivamente esse terceiro partido não quer governar à Esquerda e, portanto, constitui o Bloqueio à Esquerda de que tanto se fala neste país e que se costuma atribuir ao PCP.
Completando este xeque (se me permitirem uma expressão do Xadrez), pois é em posição de xeque que o PS está actualmente, o próprio PCP apela ao PS para se juntar à Esquerda (e não há Direita), afirmando que o PS tem condições (ou seja, que há condições para se forjar um acordo entre os 3 partidos da esquerda no parlamento) para retirar da equação de governação a Direita e governar à Esquerda. O PCP afirmou que o PS só não é governo agora se não quiser e que o PaF só será governo se o PS deixar. O BE está em uníssono com o PCP nisto. Mas há mais…
Como é conhecido, o centro-esquerda convencional (a Internacional Socialista) está em vias de extinção como alternativa de governo. Repare-se que na Grécia, o PASOK desapareceu para níveis de votação próximos do KKP (o partido comunista grego, ~6% dos votos), sendo substituído pelo Syriza, que ocupou o centro esquerda grego de tal forma que já nem lhes chamam radicais. Os Trabalhistas no Reino Unido não conseguem retirar o poder aos Conservadores. Possivelmente o Podemos poderá roubar o eleitorado do PSOE em Espanha brevemente. E sabemos bem as dificuldades do monsieur Hollande em França (que embora no poder, pouco pode ou pode pouco) e está sempre baixo nas sondagens. Isto acontece por várias razões.
Historicamente, os Socialistas Europeus eram a alternativa à Esquerda para quem não queria votar nos Comunistas ligados à URSS. Mas o Muro caiu, o mundo mudou, e a maioria dos partidos comunistas mudando com o mundo acabaram por definhar. O PCP, que se manteve fiel a si mesmo, é dos poucos partidos comunistas com peso real na política do seu país. Mas agora que já não há União Soviética, qual é o papel dos Socialistas? Nesta perspectiva, os Socialistas tiveram de mudar necessariamente e o que fizeram foi ocupar o centro, assumindo políticas económicas de Direita num mundo onde, aparentemente, o Capitalismo venceu a Guerra Fria. Qual o problema disto? É simples. A casa ganha sempre! Se se vai jogar no terreno do outro, segundo as regras do outro, é normal que o outro nos ganhe o jogo. O erro dos Socialistas materializa-se no actual Tratado Orçamental, exclusivamente criado segundo pressupostos económico-financeiros do Centro Direita, que não permitem aos Socialistas (se estes o respeitarem à letra) executar políticas económicas de Esquerda e, dessa forma, não se conseguem apresentar como uma verdadeira alternativa às forças políticas do Centro Direita. Isto, em traços largos, explica o definhar dos Socialistas Europeus.
Se António Costa for realmente, como dizem e esperam muitos socialistas e simpatizantes do PS que nele votaram, um homem politicamente inteligente e que deseja governar o país, à Esquerda como afirmou em Campanha e como alternativa ao governo PaF, perceberá que a única forma de transformar esta derrota eleitoral numa vitória estrondosa é fazer cumprir a vontade da maioria absoluta em Portugal e criar um governo de coligação PS-BE-CDU, tornando-se Primeiro-Ministro legítimo de Portugal.
Só dessa forma, Costa poderá salvar não só a sua carreira política, como o próprio Partido Socialista da extinção.
A primeira parte da frase acima será fácil de perceber porquê. Costa só poderá converter esta derrota eleitoral do PS numa vitória, se se tornar primeiro-ministro apesar dessa derrota. E pode sê-lo, pois a CDU e o BE estão a isso abertos (e as condições que pedem, de que falo mais abaixo, são fáceis do PS satisfazer). E só convertendo uma derrota numa vitória, poderá Costa sobreviver como líder do PS. Reparem que se o PS se coligar à PaF, no máximo roubará o posto de Vice Primeiro-Ministro ao Portas, nunca poderá liderar essa solução de governo. Isto é claro e inequívoco. Mais, se Costa sair agora derrotado, a sua carreira política acabou. Portanto, por auto-preservação Costa tem de fazer o que Sócrates não teve coragem para fazer em 2011: unir a Esquerda em Portugal, quebrar o bloqueio à Esquerda e, dessa forma, governar. Esta é também a forma de Costa se descolar e distinguir do fantasma (político) de José Sócrates! É um dois em um.
Não era essa a força de Costa, ser bom a criar entendimentos?
A segunda parte da frase é igualmente lógica. Para o PS se manter um partido de Centro-Esquerda, não pode agora aliar-se a uma direita castigada nas eleições (pouco, na minha opinião, mas eficazmente) em mais de 700 mil votos.
Mais, em situação de ainda crise nacional (dívida altíssima e impagável nos moldes actuais, o desemprego altíssimo mesmo que usemos os números oficiais e sem que o emprego cresça, um défice descontrolado, um PIB retornado a níveis de 2001, com o Estado Social a ser privatizado e em risco de implosão, etc…), se o PS tem oportunidade de liderar uma maioria absoluta, pode mesmo escusar-se de o fazer perante o país apenas na esperança de causar uma crise política mais tarde e governar sozinho?? Não terá isso um pesado custo político?
O partido Socialista tem uma imagem a manter (e já dizia o Salazar da sua cadeira abaixo “Política é Perceptibilidade”) que não se pode dar ao luxo de perder: a imagem de um partido que assume responsabilidades de governo e que é responsável. Portanto, a sobrevivência política do PS depende, única e exclusivamente, da sua capacidade de tomar as rédeas do país agora. Se não o fizer, não se lembrarão disso os Portugueses daqui a dois anos? Não dirão “Esses xuxalistas só querem é tacho! Porque não governaram logo em 2015?” E não votarão esses portugueses então antes à esquerda no BE e na CDU, ou à direita no CDS e no PSD? Não perderá o PS a sua posição no espectro político nacional se lançar os dados de forma tão descuidada e abertamente interesseira? Eu acho que sim. Se o fizerem, condenar-se-ão à implosão, como o PASOK. E acreditem, o Bloco e a CDU estarão lá para capitalizar dessa implosão e facilmente se coligarão.
Concluindo então que, tanto António Costa, como o próprio PS, necessitam de forjar este governo maioritário de Esquerda para assegurar as suas respectivas sobrevivências políticas, analisemos as condições para esse acordo de Esquerda:
1ª - as sondagens que davam a vitória (relativa, na verdade empate técnico) ao PaF nas últimas eleições, invariavelmente demonstravam que, ainda assim, a maioria dos portugueses preferia um governo de coligação de Esquerda. Respeitando a vontade dessa maioria (absoluta) de portugueses, um tal governo de Esquerda teria, não só o apoio da maioria do povo, como também a concertação social facilitada visto conseguir dialogar facilmente tanto com UGT como com CGTP, por razões a todos óbvias. Mas mais que as sondagens, os votos dos portugueses são expressivos, e nisto tenho de agradecer o artigo do Daniel Oliveira no Expresso, que é esclarecedor. O PS não perdeu por virar à Esquerda, perdeu porque muitos votos do Centro fugiram-lhe para o BE e para a CDU que estão à esquerda do PS, visto que a coligação perdeu votos e o próprio PS teve mais votos face ao que teve nas eleições de 2011. Ou seja, todos os partidos de Esquerda cresceram face aos resultados de 2011, incluindo o PS, mas o PS não foi esquerda o suficiente para convencer a maioria desses eleitores que deixaram de votar PaF sem se absterem, e que acabaram maioritariamente por votar no Bloco de Esquerda. Isto para clarificar que o povo (a maioria, neste momento) quer Esquerda no Governo. Logo o PS está legitimado para liderar essa solução, por mais que isso desagrade a Cavaco, Passos e Portas et all ad noseum;
2ª - o PCP (no âmbito da CDU) aligeirou muito o seu discurso anti-euro, afirmando claramente duas coisas: devemos preparar a saída do Euro para termos um plano B quanto mais não seja para o caso de não termos outra escolha; mas, nessa matéria, como em todas o PCP (a CDU) respeitará a vontade dos portugueses. Desta forma, no ponto que talvez fosse mais difícil o entendimento, o PCP dá todo o espaço de manobra ao PS, não insistindo numa saída do Euro, apenas no estudo de como se fazer uma possível saída, que pode bem nunca vir a concretizar-se se o Euro (enquanto moeda) se aguentar. O BE há muito que tem uma posição aberta (podemos sair, podemos ficar) quanto ao Euro, portanto não levantará nisto objecções;
3ª - há toda uma série de políticas que ficaram por executar durante 4 anos que são comuns a toda a Esquerda Portuguesa. Obras estruturais para alavancar a economia (renovar linhas de caminhos de ferro, portos, estimular a pesca e a agricultura), a redução da carga fiscal nas famílias e na restauração, a questão da co-adopção (e raios, a adopção completa) por casais LGBT, a restituição do estatuto de isenção dos dadores de sangue para evitar a escassez deste elemento no SNS, resolver a questão do desperdício de plasma (de preferência lucrando disso o SNS, tornando-se mais sustentável, e não as Farmacêuticas), a restituição do anterior regime da IVG desfigurado pelo governo PaF, desfazer o mal que este governo fez na Educação e na Justiça (que se se tornarem mais ágeis, actuais e eficazes, ajudarão a estimular a economia portuguesa), fortalecer os direitos laborais, salvaguardar as pensões, etc... Estas serão as bases para um entendimento de governação. Dir-me-ão as vozes da Direita “E o Dinheiro vem de onde?”! Vem dos dinheiros comunitários (porque não sairemos da UE) & da libertação de verbas estatais do Serviço da Dívida (pagamento de juros) oriunda de uma renegociação da dívida. E claro da captação de investimento privado.
4ª - António Costa pediu ao PS um mandato para poder dialogar à sua Esquerda sobre a renegociação da dívida. Já falei disto, é algo não só natural mas (e reparem como posso usar os argumentos da Direita) NECESSÁRIO de fazer se queremos pagar a dívida e, dessa forma, recuperar algum do nosso nível de vida e soberania nacional. As empresas fazem renegociação das suas dívidas com toda a naturalidade quando chegam a situações bem menos más que aquelas em que o nosso país está. Não é um bicho de 7 cabeças. E podemos e devemos fazê-lo indo ao encontro da Troika, bem acompanhados dos nossos pares Irlandeses e Gregos, quiçá até Espanhóis e Franceses. Pode e deve começar uma mudança na Europa, que começa a mostrar perigosos sinais de se encaminhar cegamente para a auto-destruição. Podemos inverter esse rumo, mas só em grupo. Aprendamos com a Grécia, não podemos ir sozinhos enfrentar os credores;
5ª - e quanto ao Tratado Orçamental, o Hollande (um socialista europeu) já o congelou (como o PaF por cá fez a carreiras e pensões), por isso nós, não tendo necessariamente de o rasgar (mais uma vez espaço de manobra que BE e CDU dão ao PS), podemos simplesmente dizer que não vamos cumpri-lo durante 4 anos para nos reerguermos e podermos realmente ter condições de o cumprir, SE ASSIM DECIDIRMOS NO FUTURO.

Estão então reunidas as condições dum governo maioritário de Esquerda, com o PS à sua cabeça, coligado com BE e CDU, com uma maioria absoluta estável como o Cavaco quer/exige (embora não fosse esta que ele quisesse). Não só estão reunidas essas condições como é do interesse do PS e do seu actual líder, por questões óbvias de sobrevivência política, que tal governo se venha a fazer. Até João Soares, que na altura das Primárias era pelo Seguro(e percebe-se que os Seguristas são no PS actual a ala direita), afirmou que Costa tem de se coligar à Esquerda. Até Cavaco, implicitamente disse a Costa que coligar-se à Esquerda é a sua única saída, quando disse que esperava “que os partidos” (leia-se o PS) “ coloquem à frente dos seus interesses” (leia-se sobreviver politicamente) “os interesses de Portugal”. Acontece que, na sua habitual cegueira sectária, Cavaco Silva se esqueceu que prometeu ainda antes da campanha eleitoral que só empossaria um governo de MAIORIA ABSOLUTA (que a Esquerda pode e deve fazer). Ao mesmo tempo, os Portugueses ouviram Cavaco e deram essa maioria absoluta à União da Esquerda.
Qual é então a dúvida, senhor Costa? Tem a bola nos pés, quer marcar golo ou auto-golo?
Eu gostava que as redes sociais se incendiassem por esta outra via, democraticamente legitimada, fazendo notar-se o seu apoio a um governo de Esquerda, só para o caso dos votos não serem suficientes. Manifs perante a fachada da sede do Partido Socialista no Rato, em Lisboa, também seriam boa ideia. Vá lá, anonymous portugueses, apartidários, indignados, independentes, simpatizantes do PS, da CDU e do BE, saltem do sofá. Está na hora duma viragem verdadeira.
‘Bora lá resolver esta embrulhada e fazer valer o Prólogo da Constituição da República Portuguesa: toca a desengavetar o Socialismo e faça-se cumprir Abril, porra!

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Voto CDU (PCP-PEV-ID), mas porquê?

Esta é a primeira campanha em que revelo o meu voto a quem queira saber, quando normalmente só o revelo aos mais próximos amigos. Senti-me compelido a fazê-lo, porque os Media não estão a informar as pessoas, nem a ser isentos sobre o que informam. 
O texto abaixo é da minha autoria e enviei-o na quarta-feira (porventura tarde demais) ao Público para ver se mo publicavam, se por nada mais por contrastar com as posições lá colocadas durante a semana pelos seus muitos colunistas. Não fui publicado até hoje, não sei se por escolha editorial ou por ser tardia a hora, mas só refiro o envio para o Público para explicar porque só agora publiquei aqui. Aguardei uma resposta que não veio.
Caso o Público me tivesse publicado, provavelmente o texto seria acompanhado do meu nome e foto. O objectivo é dar a cara. Chamo-me Alexandre Fanha e deixo-vos o link para o meu facebook:



«Eu venho por este meio dirigir-me aos que, nesta fase, realmente importam: os indecisos, os indignados, os anonymous portugueses, os possíveis abstencionistas que quero convencer a votar. Não me importa se são de Esquerda, Direita, ou Centro, ou sem ideologia. Se estão na dúvida e ainda não estão cristalizados no vosso pensamento, isto é para vocês. 
Não sou nem nunca fui militante de nenhum partido, gosto que os partidos se esforcem para me convencer. Mas afirmo sem problemas que me considero um apartidário de Esquerda, que sou ateu, que não ligo a sondagens e que leio jornais nacionais e estrangeiros.
O que quero partilhar convosco não é meramente a minha intenção de voto (explicitada no título deste artigo de opinião), mas antes como cheguei a essa intenção de voto, qual o raciocínio por detrás dela.
Este divide-se em duas partes:

1) Por Exclusão de Partes
2) Avaliação do Projecto Político da CDU

1) Por Exclusão de Partes
Dos partidos sem assento parlamentar, só houve um que captou a minha atenção e foi o LIVRE, mas depois de alguns contactos directos, de ter acompanhado informaticamente as suas primárias e de ver a sua proposta de programa político, achei esse partido uma versão diluída do Bloco de Esquerda, mas com ainda menos possibilidade de conseguir um forte resultado eleitoral. O Marinho e Pinto diz-se e contradiz-se a si mesmo, o seu partido é ele mesmo, é um tipo que só quer tacho enquanto afirma isso de todos os outros, e tem como lema no site do seu partido “Acredita no que me ouviste dizer, mas nunca acredites no que outros dizem que eu disse”. Dá jeito a qualquer político mentiroso. O PURP e o PAN são partidos demasiado específicos e que colocam à frente dos interesses gerais da nação, interesses de pequenos grupos ou causas, respectivamente, os reformados e os animais. O Agir etc etc perdeu-me com a proposta, que veiculou em tempo de antena, de criar um mecanismo que mandasse abaixo qualquer governo que não cumprisse o que prometera nas eleições. Precisaria de conseguir, para implementar um tal mecanismo, uma maioria qualificada (maior que a absoluta) para poder alterar a Constituição, começando dessa forma e logo de início a prometer o que nunca poderá cumprir e entrando em contradição consigo mesmo. Para o PNR nem olhei porque a única coisa que tenho em comum com esse partido é ser contra o Acordo Ortográfico de 1990 (AO90), mas quase de certeza por razões diferentes. De igual forma, não ligo aos Monárquicos pois sou republicano, ao mesmo tempo que têm o mesmo problema prático do Agir, visto que a actual constituição não permite um outro regime que não o republicano. O MPT granjeia-me alguma simpatia por ser contra o AO90, mas perde-me por se ter deixado ludibriar pelo auto-contraditório Marinho e Pinto nas Europeias.
O PS é um partido politicamente falido, como se pode ver no que resta da Internacional Socialista. Os socialistas europeus condenaram-se à extinção quando aceitaram trabalhar dentro das normas do Tratado Orçamental que, como realçou Marcelo Rebelo de Sousa no passado domingo citando um artigo norte-americano, foi criado segundo pressupostos de Centro Direita, manietando assim quaisquer respostas económicas de centro-esquerda na Europa e viciando a democracia ao Centro, obrigando-o a uma não-escolha entre políticas de Direita e políticas de Direita. O PS é um partido cujo actual programa eleitoral assenta num estudo económico que usa como premissas previsões macro económicas da União Europeia (UE) que não poderiam contar com a presente crise da Wolkswagen e que não contam com a implosão da economia chinesa que muitos economistas já vêem no horizonte. Esse programa do PS contempla também um cenário em que o Euro implode, mas escolhe ignorar esse cenário, pura e simplesmente, ao invés de preparar um plano B para essa eventualidade, deixando-se (e ao País se for eleito) exposto a um putativo mas plausível problema. O PS foi recentemente noticiado como estando altamente endividado e com dificuldades em financiar-se, logo vive na dependência dos grupos económicos. É um partido dividido internamente e que um seu militante, Henrique Neto, descreveu em 2012 como tendo uma série de grupos internos que agem como lojas maçónicas, lutando entre si pelo poder interno. António Costa é um auto proclamado ateu e presidente da Câmara de Lisboa que, quando a cidade sofre uma inundação derivado a chuvas, diz que a única solução possível está com São Pedro, quando quer Nova Iorque, quer Tóquio têm conhecidos mecanismos de protecção civil para impedir estas ocorrências. Vale mais desperdiçar milhares com a Fundação Mário Soares ou a processar barbearias que não permitem entrada a mulheres (como imensos ginásios não permitem a homens). Quer queira quer não, o PS é um dos co-autores do Estado a que isto chegou, pois foi alternando a formação de Governo com o PSD, com quem tem entendimentos a nível do Plano de Privatizações e da relação com a União Europeia. É igualmente co-responsável pelas PPP’s e os SWAP’s que geraram um conjunto de empresas que vivem em “Capitalismo sem Riscos” (cito Medina Carreira), em que o Estado aceita cobrir os seus prejuízos. Esta conjunção de factores faz com que perca o meu voto, pois não acho este partido, nem o seu actual projecto, nem o seu historial governativo, ou actual líder inspiradores de confiança.
O PaF, é preciso realçar, que é a coligação actual do Governo, PSD-CDS. A mesma cujo o governo não conseguiu, nem indo para além da Troika, nem quebrando as promessas eleitorais de 2011, nem atravessando as linhas vermelhas auto-proclamadas, nem após imensos orçamentos rectificativos muitos dos quais factualmente em desrespeito à actual e vigente Constituição da República Portuguesa, atingir uma única das metas do Memorando da Troika, apesar de, por serem o bom (leia-se lambe-botas) aluno do Schauble, a Troika lhes dar sempre nota positiva. A dívida nacional aumentou; o défice, que é sempre um valor contabilístico, não está controlado e tem sido camuflado com receitas extraordinárias, como a da venda dos CTT (uma das poucas empresas do Estado que dava lucro); a balança comercial continua negativa, apesar do esforço de reorganização para exportações do tecido empresarial português; não só não resolveram o problema que herdaram do BPN, como fizeram uma outra nacionalização ruínosa de prejuízos bancários no BES, ainda que “transvestida” de Banco Novo. Historicamente, estas forças são co-responsáveis de PPP’s, e SWAP’s, tendo criado novas PPP’s, embora também “transvestidas” de concessões, como no Metro de Lisboa, propagando o tal “Capitalismo sem Riscos” pago pelos impostos dos Portugueses. Resumindo, o governo PaF falhou, criando um empobrecimento e retrocesso civilizacional em Portugal, com níveis do PIB a regressarem a 2001, mais emigração que na altura da Guerra Colonial, salários baixos, caça às bruxas no sector público, e uma taxa de Desemprego que milagrosamente desce sem que suba a taxa de Emprego. E já agora, a tal Saída “Limpa” (leia-se ausência de um plano cautelar) só aconteceu, não por mérito ou vontade do governo, mas porque não se conseguiu reunir um consenso nos países da União para que se fizessem planos cautelares. Não só não resolveram problemas, como os adensaram. À sua cabeça têm, em grande (Tecno)forma, um homem conhecido por não pagar a Segurança Social enquanto instiga outros a pagarem os impostos e não serem piegas. Pedro Passos Coelho é o homem que mente, “por lapso”, sobre pagamentos da dívida em plena campanha eleitoral, tendo um historial recente de não cumprir as suas promessas eleitorais, mas antes fazer o contrário do que prometera. Mas qual Hidra, o PaF tem (pelo menos) duas cabeças, sendo a outra mais hábil em saber quando deve emergir e submergir, qual submarino, nos debates respondendo apenas às perguntas que lhe dá jeito (mas nem a essas com toda a verdade), enquanto alonga as respostas para não deixar os outros falarem e para queimar tempo e não ter de responder às perguntas. Paulo Portas, se nada mais, é o homem de enorme responsabilidade (denote-se aqui um desdenhoso sarcasmo) que, por birra, irrevogavelmente queimou a Portugal 4 mil milhões de euros para que lhe dessem um título mais pomposo! É também o homem que afirma abertamente que não se sente obrigado a governar segundo a Constituição vigente, porque esta fala de Socialismo no prólogo!! É ainda o homem que afirma que o estado não sabe gerir (como se Zeinal Bava ou Ricardo Salgado não fossem gestores do sector Privado e mesmo assim responsáveis por afundarem duas das maiores empresas portuguesas), mas que participa num governo que nacionalizou a REN e o que restava da EDP para o Estado (Comunista) Chinês!! Ou seja, Paulo Portas admite que os Comunistas são melhores gestores da coisa pública que ele! O programa conjunto desta força política é tão vago, tão desonesto, e tão vazio de conteúdo como o projecto de reforma do Estado que o actual vice-primeiro ministro esboçou outrora. Por todas estas razões, e por não ser masoquista nem idiota, não voto no PaF.
Distinguir o Bloco de Esquerda da CDU, não sendo militante de nenhum, pode ser complicado, mas não tão complicado como distinguir o PS do PSD-CDS. Muito simplesmente, o Bloco é a favor do Acordo Ortográfico de 1990, eu sou contra e o PCP é o único partido a ter colocado a votos uma iniciativa de desvinculação do Estado Português a esse malfadado (des)acordo. O BE achou que era importante, para o Feminismo em Portugal na segunda década do século XXI, discutir os malefícios do Piropo, indiciando uma estranha (no BE) tendência proibicionista no sentido do discurso politicamente correcto e em detrimento da Liberdade de Expressão, mas não vi o BE fazer manifestações tão veementes pela igualdade salarial e pelos direitos de maternidade das mulheres trabalhadoras. Mas mais que tudo isso, falta implementação e estrutura ao Bloco: não tem força nos sindicatos, não tem implementação autárquica. Por tudo isto, voto na CDU (PCP-PEV) e não no Bloco.

2) Avaliação do Projecto Político da CDU
Mas, felizmente, não é só por falta de escolha que voto CDU, embora fosse razão suficiente. O projecto de política nacional e europeia da CDU, programa conjunto de PCP, PEV e ID, não sendo perfeito (como nada é) nem capaz de representar TOTALMENTE a minha visão pessoal e as minhas ideias (como nenhum partido pode fazer pois representam colectivamente e não individualmente), tem a mais valia de ser o único que percebe o problema duplo, que na verdade é um só, que impede Portugal de se solucionar e ver uma luz ao fundo do túnel: o colete de forças do Euro imposto pelo Tratado Orçamental e uma dívida insustentável e impagável.
O Euro é acima de tudo uma moeda forte demais para a nossa economia, especialmente depois de esta ter perdido a frota pesqueira e mercante, bem como grande parte da sua indústria na altura em que o Cavaco foi primeiro-ministro. É pelo Euro que, não os Portugueses, mas a nossa Economia Nacional tem vivido acima das suas possibilidades. Basta recordarem-se que, assim que adoptámos o Euro, tudo o que custava 100 escudos, passou a custar 1 euro, que equivalia a 200 escudos no câmbio à época. Ou seja, o custo de vida duplicou automaticamente com a adesão ao Euro, mas os salários e pensões não duplicaram. Realço ainda que os partidos que hoje defendem o Euro, já não o fazem apelando aos benefícios deste último, mas amedrontando com a “calamidade” que seria dele sair.
Mas isso à parte, o Euro é um projecto de sucesso historicamente muito improvável. Das várias tentativas que já houve para que um conjunto de estados tivesse uma moeda única, comum a todos, apenas uma funcionou. Chama-se Dólar (norte-americano). Essa funcionou porque tem uma estrutura por debaixo: os estados têm uma Língua em comum, tem uma Constituição em comum, e têm um governo federal em comum. A UE nunca terá uma língua em comum, mas nem sequer se deu ao trabalho de criar o governo federal (nem há essa vontade política entre os estados membros), e muito menos de criar uma constituição colectiva. Para além disso, o Euro está hoje em perigo pela fragilidade dos países que adoptam a Moeda. Não só o perigo de insolvência que assombra, apesar do quadro que o PaF nos pinta, tanto Portugal como a Grécia, como as repercussões da questão Wolkswagen, da guerra económica com a Rússia por causa da Ucrânia, e da futura crise chinesa, trarão para a maior economia da União, a Alemanha. Mas há mais! Os movimentos separatistas existentes na Espanha e na Bélgica (já nem vou ao Reino Unido porque aí reina a Libra), somados ao crescendo de intenção de voto em partidos xenófobos que vai provavelmente continuar com a chegada contínua de mais migrantes, somam-se aos stresses sócio-económicos que criam tensão na manutenção da zona Euro. Com tudo isto em mente, qualquer governante que se preze deve querer criar um plano de contingência para a possibilidade inexplorada de ter de sair do Euro, mesmo que isso aconteça por vontades alheias ou pela inevitabilidade dos acontecimentos. Um bom governante deve “esperar o melhor, mas preparar-se para o pior”. Quando a CDU propõe preparar a saída do Euro, está a fazer isso, e é o único partido que o diz querer fazer. Mas, como afirmou já não sei se o Jerónimo, se o deputado Miguel Tiago do PCP, “o euro não é um dogma para nós”. Logo, tendo esse plano de saída em mente, a CDU pode nem necessitar executá-lo, mas antes usá-lo como moeda de troca na renegociação da dívida. Mas com a vantagem, de estar disposta a executar o plano. Seja como for, a CDU comprometeu-se a respeitar a vontade dos portugueses, tal como tem feito nos últimos 40 anos de Democracia, pelo menos.
A segunda parte do problema nacional, e que é fundamental porque nos põe em risco a qualidade de vida que ainda temos, colocando em causa a manutenção do Estado Social, é a questão da dívida. Quando uma empresa, nos dias de hoje, se vê a braços com uma dívida à qual já não consegue fazer face, não tem alternativa senão ir ter com os seus credores e renegociá-la para a conseguir pagar. Uma renegociação de dívida pode vir de diversas formas, como uma diminuição nos juros e um aumento dos prazos de pagamento, por exemplo. Não tem de implicar o hair cut, ou seja o perdão de parte da dívida. Tanto o PS, como os PaF (PSD-CDS), sabem disto, mas recusam-se a discutir a questão, até mesmo depois do FMI ter dito que no caso da Grécia se tinha de fazer uma renegociação da dívida. Quando a Irlanda disse que queria renegociar a dívida, o governo PaF disse o contrário, ao invés de fazer coro com a Irlanda! Mais, tanto PS com PSD-CDS afirmaram que o PCP e o Bloco, por quererem renegociar a dívida, são uns caloteiros que não querem que o país pague o que deve. É falso. Não pagar a dívida é o que o PS e o PSD-CDS fazem, indo trocar dívida de curto prazo por dívida de médio-longo prazo, chamando a isso financiar o país, enquanto não paga a dívida, apenas os juros da mesma, que mesmo assim vão acumulando e fazendo aumentar a dívida lenta e perigosamente. Os que não querem pagar são precisamente os que não querem renegociar a dívida, porque tal como ela está, em que pagamos só de juros 9 mil milhões por ano, não a conseguimos pagar.
Mas para renegociar a dívida, temos de ter peso negocial. Esse peso negocial vem da disponibilidade para sairmos do Euro. Notem que os economistas já dizem que a crise da Wolkswagen terá um custo semelhante ao de um Grexit. Isto, por muito que a UE diga que se blindou quanto à saída de um país da zona Euro, indica que uma tal saída teria consequências económicas graves para a zona Euro e como tal é de evitar. A única razão pela qual a Comissão Europeia não temeu a saída da Grécia, foi porque sabia que o Tsypras estava a fazer bluff, porque o povo grego não queria essa saída. O Tsypras tentou usar o posicionamento geopolítico, piscando o olho ao Putin, para ver se o Obama convencia a União a renegociar a dívida grega. Mas a Comissão Europeia não foi nisso, até porque sabia que os gregos não apoiariam Tsypras nisso, nem na saída do Euro. Lá está, sem essa disponibilidade de saída, estamos condenados a viver nas regras asfixiantes do tratado orçamental.
O erro do Tsypras foi não estar preparado para que lhe comprassem o Bluff. Um plano Português de saída do Euro, somado à noção de que temos recursos que a Grécia não tem (como as nossas consideráveis reservas de ouro ou a nossa imensa riqueza costeira[a Grécia já nem esta última tem, visto que o Mediterrâneo está todo envenenado]), adicionados a uma frente unida de países que desejam renegociar as suas respectivas dívidas soberanas (Portugal, Irlanda, Grécia e possivelmente a Espanha se os ventos por lá mudarem) sentados em bloco à mesa com a Troika, é a única esperança que temos de resolver os problemas nacionais actuais, ao mesmo tempo que nos preparamos para a plausível e provável implosão do Euro, “não vá o diabo tecê-las”, como diz o povo.
Quanto ao resto. Bem, agora que já pouco ou nada resta para privatizar ou concessionar e o Estado está sem outros meios de se financiar que não o aumento de impostos, ou as nacionalizações deixam de ser tabu, ou a carga fiscal sobre o trabalho vai aumentar (por muito que o PaF e o PS vos digam que não, visto que não estão dispostos a ir taxar antes as grandes fortunas e os lucros empresariais). No programa "Olhos nos Olhos", o próprio Medina Carreira, que pode ser muita coisa mas não é um "perigoso" comunista, após analisar a fundo a EDP, concluiu que mais valia (aos consumidores) voltar a nacionalizar a empresa. Se a Privatização não é tabu, a Nacionalização também não o pode ser.
Mas, mais uma vez, só há um partido, não só disposto como também, capaz de fazer essas nacionalizações. O PCP é auto-sustentado em 90% por meios próprios, sendo o mais famoso destes últimos a Festa do Avante. Os restantes 10% vêm do Estado, derivados dos votos que recebem (como todos os partidos), e a parte do salário (e isto é único em Portugal) de cada um dos seus deputados que só ganham o que ganhavam antes de assumirem funções na Assembleia, doando o restante ao PCP. Por ser auto-sustentável, não está dependente dos bancos e pode efectivamente controlá-los, se legitimado pelo povo democraticamente. Como esclareceu o Jerónimo, nem precisa de ser com nacionalizações, poderá ser com forte regulamentação. Notem que no Japão, a 3ª economia do Mundo e com governo de direita liberal, o Estado obriga os bancos a financiarem as empresas para manter a economia a funcionar. Não têm crescido muito, mas gaita!!, são a 3ª economia do mundo apesar de levarem constantemente com tsunamis. O actual presidente japonês, aquando da capitulação da Grécia, afirmou que a lição que se devia de aprender é que é preciso investir na economia e não aumentar a austeridade. Para dar outro exemplo, a Islândia, depois de uma breve revolução feita por 90% da população, de haverem novas eleições e de reescrita a sua constituição, voltou a regulamentar a banca. Têm o desemprego nos 5%, renegociaram a dívida e já pagaram ao FMI, e também julgaram e condenaram os culpados pela sua crise nacional.
Porque é que o governo PaF vendeu as golden shares da EDP, ou os CTT, ou a REN, quando (soube recentemente nas notícias) o Estado Alemão detém 30% das acções da Wolkswagen como fonte de financiamento? E o estado Norueguês que detém 70% dos lucros petrolíferos da nação deles? Foi a Troika que os obrigou? Não, foi ideológico porque os PaF acham que é melhor entregar à gestão privada, aos Zeinal Bavas e aos Chineses! O Paulinho das Feiras não se farta de o afirmar em campanha. Mas isto é gestão danosa, pois deixa o estado português com uma dívida massiva para pagar e sem fontes de rendimentos que não os contribuintes, que ou emigram ou não têm emprego, ou recebem salários cada vez menores.
Para obter diversificação de fontes de rendimento e ter instrumentos para alavancar a economia, resolvendo o desemprego, que mais que a crise demográfica (podemos sempre importar mais chineses, mais africanos e sírios para a solucionar, como a Alemanha fez recentemente) põe em risco a segurança social e as reformas, é imperativo controlar e/ou recuperar sectores estratégicos nacionais. Esse controlo faz parte do plano da CDU, ao mesmo tempo que aposta na industrialização, nas pescas (a que nem PS nem PaF ligam, agarrados que estão pelos interesses estrangeiros) e na agricultura.
Em termos de impostos, a CDU propõe subir para os 25% (valor onde já esteve) o IRC, aliviando o IVA da restauração e o IRS, para benefício do sector turístico, das famílias e das micro e pequenas empresas (aquelas que criam o seu próprio emprego!!). É isto extremista?!
Quando surgiu a questão dos Direitos de Autor Vs Downloads não-pagos, o PS e o PaF fizeram a lei actual que castiga os consumidores que comprem qualquer tipo de suporte de dados (dvd, pen drives, discos rígidos, etc), independentemente de serem de facto piratas ou não, através duma taxa adicional que aumenta o preço e que reverte para os autores. O PCP contra-propôs taxar-se antes os lucros de quem verdadeiramente lucra com os downloads ditos ilegais, pois são os seus facilitadores e mediadores, as Operadoras de Telecomunicações. O Centrão optou por taxar consumidores, a CDU propôs taxar-se antes o lucro das empresas. Esta é a diferença ideológica de onde se vai buscar o dinheiro. Tanto a Direita e Centro como a Esquerda querem fazer Redistribuição de Capitais, só que o Centrão + CDS fá-lo no sentido do povo para as empresas, e a CDU quer fazer das empresas para o povo. E notem que, em Capitalismo, são os consumidores quem criam postos de trabalho, não os ricos. Pode-se ter o melhor produto e todo o capital do mundo, se ninguém comprar o produto, por mais dinheiro que lá enterrem, a empresa vai à falência. Mais que isso, não há nenhum patrão no mundo que empregue pessoas a não ser que a isso o mercado, pelo aumento da procura (mais consumidores a quererem o produto), lho imponha. Não são os ricos que criam empregos, somos nós, os consumidores. Esqueçam a Deco, votem CDU, cujas soluções não são (embora os problemas do país possam ser) nem velhas nem desajustadas da realidade em que vivemos.
Em termos de Cultura, a CDU propõe um orçamento de 1% do Orçamento de Estado no primeiro ano de legislatura, evoluindo até ao 1% do PIB no quarto ano de Legislatura. E já propôs e mantém a proposta, para uma renegociação nas bases ou desvinculação do Acordo Ortográfico de 1990, mais uma alhada, mais um experimentalismo irresponsável e irreflectido em que o Centrão meteu o país. É isto brusco e repentino?
Não liguem às falaciosas e já por demais desmontadas sondagens com que tentam moldar sub-repticiamente, não falando e argumentando directamente como eu, a vossa decisão. Não se deixem enganar com discursos desesperados e em pânico de apelo a votos (in)úteis, lembrem-se antes que em Portugal não elegemos governos, elegemos deputados para nos representarem. A CDU foi instrumental na devolução do 13º mês, para dar mais um exemplo de como essa força zela pelos v/nossos interesses, não contra a Lei, mas antes através da Constituição vigente. A CDU não falhou com os seus compromissos de campanha.
Não temam instabilidades. A Catarina Martins do Bloco estipulou 3 condições para governar ao lado do PS. O PCP só tem uma: toca a sacar o Socialismo de onde o Mário Soares o engavetou e a fazer jus ao nome do Partido Socialista. Não temam atitudes sectárias de um partido que ajudou a eleger Soares (PS), Sampaio (PS) e Eanes (independente de Direita) à presidência da República, e que fez e faz acordos autárquicos com o PSD (antes no Porto, agora em Loures). O bloqueio à Esquerda não é causado pela CDU, mas tem sido mantido pela incapacidade dos Socialistas de implementarem medidas socialistas.
E acima de tudo, descansem, “senhoras e senhores, irmãs e irmãos, amigos, camaradas” (citando Christopher Hitchens), votar no PCP não é votar em perigosos experimentalismos como a aplicação de um modelo económico defeituoso e que, já se comprovou factualmente, errado como fez Vítor Gaspar, nem dar azos a irresponsáveis como o danoso e irrevogavelmente birrento Portas. É antes um voto conservador, no melhor dos sentidos desta última palavra, pois é dar força a quem quer travar um PREC (leia-se Processo RAPINADOR em Curso) de Direita, conservando e reforçando o nosso Estado Social (SNS, Segurança Social, Educação Pública, Forças Armadas e de Segurança), ao mesmo tempo que recupera lenta e diplomaticamente a soberania nacional e renova a nossa posição e dignidade como Estado, não só na União Europeia, mas no mundo. Se querem de facto renovar a política em Portugal, retornando aos valores da Revolução de Abril e até aos valores de origem que a União Europeia afirma ter (solidariedade, direitos humanos, democracia), votem CDU.
Nada temam, se sobreviveram ao malogrado sonho (para mim, pesadelo) do Sá Carneiro (uma maioria, um governo e um presidente laranjas), tornado real neste governo PSD-CDS com a presidência mumificada do Cavaco Silva, não serão os Comunistas Portugueses que darão cabo de vocês. Mas são eles que vos podem tirar do buraco.
Só se consegue mudar os resultados, fazendo algo de diferente.
Dêem uma hipótese à CDU, dêem-lhes força negocial, dêem-lhes o vosso voto.»


AO90 em Espectro Largo

Há uns meses, um tipo chamado Ivo Miguel Barroso, vendo que eu andava a sondar os partidos políticos relativamente à posição destes em relação ao Acordo Ortográfico de 1990 (AO90), que tão levianamente é chamado de Novo Acordo Ortográfico (embora seja produto do século passado), abordou-me para que eu escrevesse um artigo com essa pesquisa, que ele me ajudaria a fazer publicar no Público.
Depois de debate online, reuniu-se um grupo de trabalho de 4 pessoas, para realizar essa tarefa, sendo que eu iria escrever o artigo, que depois seria editado pelos restantes. Acordou-se que o artigo deveria ser curto, estritamente informativo e factual, e acompanhado de uma tabela para leitura mais fácil. O objectivo era duplo: fazer as pessoas pensarem a sua escolha de voto considerando o AO90, mas também pressionar os políticos em tempo de pré-campanha eleitoral a adoptarem uma posição anti-AO90. O artigo que acabou por sair, sob o título “As Posições dos Partidos Políticos sobre o Acordo Ortográfico” (I) e (2), respectivamente, nas edições dos dias 29 e 30 de Julho do Público, por autoria de apenas duas das quatro pessoas originalmente no grupo de trabalho, nada tinha a ver com o rascunho que eu escrevi, embora ainda tenha lá resquícios de uma ou outra frase minha. Estou à vontade para afirmar o que afirmo, visto que tenho todas as mensagens e emails trocados no âmbito desse trabalho. Até as citações de deputados dos vários grupos parlamentares que não foram usadas na versão final do artigo, não percebo bem porquê.
Eu optei por não querer estar relacionado com a versão final desse artigo por várias razões. Primeiro, era enorme e enfadonho, e consequentemente teria poucos leitores, mesmo entre os que já se interessam pela questão. Segundo, porque dava enorme destaque aos partidos do Centro (PS, CDS, PSD), os causadores da aprovação e implementação do malfadado acordo, relegando para uma segunda parte (que ninguém iria ler!!) o BE, o PEV, e o PCP, que foram assim agrupados com os demais partidos sem assento parlamentar. Ora esta disposição, parece querer antes convencer o eleitorado que não vale a pena fazer nada, porque a maioria na Assembleia da República (AR) é a favor e pronto. Mas pior que isso, e eu à altura nem reparei porque não tive pachorra para ler tudo quando me enviaram a primeira parte ainda antes de impressa, Ivo Miguel Barroso não só não pressiona os partidos do Centro, como hostiliza, pela descaracterização da sua proposta, a posição do único partido com assento parlamentar que já propôs a desvinculação do Estado Português do AO90, o PCP.
O deputado Miguel Tiago do PCP acusou o golpe e ripostou clarificando, no artigo do Público e na sua página de Facebook, a posição do PCP (como demonstra a imagem acima), cuja proposta de desvinculação pode ser consultada no site da Assembleia da República:
Ao afirmar “Todavia, este Projecto de Resolução do PCP apresenta, em vários pontos, uma fundamentação desadequada.”, com toda a prepotência de quem se acha uma autoridade suprema visto que não se dá ao trabalho de fundamentar a sua afirmação, Ivo Miguel Barroso só pode mesmo querer hostilizar o PCP. Porquê, não sei! O que ele devia ter feito era, se ia fazer um artigo de opinião e não meramente informativo como ele me disse que desejava originalmente, elogiar a conduta do PCP neste caso concreto (visto que é a única posição na AR favorável à causa anti-AO90) e até tentar capitalizar o apoio dessa máquina partidária de nível nacional para conseguir mais rapidamente assinaturas para a Iniciativa de Referendo Nacional sobre a Desvinculação do AO90 ou para organizar acções de rua, onde o movimento Anti-Acordo Ortográfico tem infelizmente pouca expressão.
Um movimento com o qual não me identifico é o dos Anti-Touradas, mas tenho de admitir que, lenta mas seguramente, eles vão obtendo resultados. E porquê? Porque chateiam incessantemente os políticos e fazem acções de rua, conseguindo converter isso no apoio político do PS e do BE. Mas não rejeitaram ou hostilizaram esses partidos depois de granjeado o seu apoio.
O movimento anti-Acordo Ortográfico perde-se em disputas pessoais internas entre egos enormes, quezílias partidárias interferem com a execução duma acção conjunta contra o acordo ortográfico (o que não faz sentido sendo que a sua oposição está espalhada por todo o espectro político, embora assim não pareça na AR), e tem pouca organização, algo que não falta na acção concertada e cirúrgica do lobby pró acordo ortográfico, junto do Centrão.

Mas porque há-de interessar esta questão ao comum dos cidadãos portugueses?

Resumindo, o Acordo Ortográfico é um caso-estudo de tudo o que está mal na política em Portugal.
Primeiro, revela o défice democrático que existe em matéria de acordos internacionais. Tudo foi decidido e executado alternada e concertadamente por PS e PSD, não com o apoio da maioria dos portugueses, que não foram nem vistos nem achados, mas apesar da oposição de uma maioria dos portugueses. Essa oposição varia entre os 60% e os 80%, fazendo-se ouvir sempre que algum site ou blog pergunta quem é a favor do AO90 (ver imagem dessa pesquisa abaixo. Sugiro que façam download da imagem e façam zoom, até lá têm links para as pesquisas mencionadas). Até o Sporting Clube de Portugal deu a escolha aos seus sócios, cuja maioria optou por não adoptar o AO90. Pena a minha que o meu Benfica não tenha feito o mesmo.
Depois, mostra como os políticos do Centrão só ligam às opiniões técnicas ou científicas que lhes convêm, e não aos factos em si. Ainda antes deste acordo ortográfico ser metido em prática, com as desastrosas consequências que conhecemos e podemos ver em vários canais de televisão e outros media, o governo Socrático (que aprovou a Resolução de Conselho de Ministros [RCM] que vincula o estado português ao AO90) encomendou pareceres técnicos a várias instituições creditadas. Em 14 pareceres, 13 deram nota negativa ao AO90, e o único que deu nota positiva era da autoria de um dos criadores do AO90. O Governo Sócrates decidiu ignorar os pareceres que encomendou. O governo PaF, PSD-CDS, quando entrou em funções optou por continuar a implementação do AO90, igualmente ignorando esses pareceres, sendo que a esse mesmo governo PaF bastou um único parecer para proibir, em 2014, uma manifestação apeada da CGTP na ponte 25 de Abril, onde todos os anos se correm maratonas.
Foi esse mesmo governo que neste corrido verão pré-eleitoral de 2015 surgiu com uma campanha para reutilização de manuais escolares, mas não se lembrou disso quando em 2012, ao implementar o AO90, impôs às famílias portuguesas gastos forçados em novos manuais escolares (para gáudio e lucro de algumas editoras), ao mesmo tempo que baixava os rendimentos e aumentavam a carga fiscal a essas famílias. Mais que isso, resolveu fazer uma reforma ortográfica, sem previamente estudar os custos de implementação dessa mesma reforma para o Estado (criação de correctores ortográficos como o Lince, formação para professores, alteração de conteúdos de sites públicos, etc…), ao mesmo tempo que fazia cortes na Saúde, na Educação e na Cultura, a que chamou gorduras de estado. A Lusa questionou a Porto Editorae a Leya, reportando sobre isso a 9 de Maio deste ano (link aqui), sobre se tinham conseguido novas exportações de livros portugueses graças ao AO90. A Porto Editora disse que não, a Leya respondeu à político, reafirmando que é a favor do AO90 mas não respondendo em concreto à pergunta. Ou seja, o Acordo Ortográfico não abriu o enigmático “potencial económico da Língua Portuguesa” de que tanto fala o actual Presidente da República. A Lusa perguntou ainda se o estado tinha dado ajudas de custo para a implementação às Editoras. A Porto Editora negou ter recebido tal ajuda, a Leya não respondeu. Ainda hoje ninguém sabe ao certo quanto nos custou mais (para não falar na embrulhada da reforma Judicial, lembram-se?) esta malfada reforma.
Por último, e isto interessará a todos os que dêem importância a que vivamos num estado de Leis democrático, o Acordo Ortográfico de 1990 só é sustido pela Resolução de Conselho de Ministros do governo Sócrates n.º 8/2011, de 25/1, que não é uma lei e como tal não revoga a lei que legaliza a Ortografia de 1945, a mesma que o Público e eu usamos, que é portanto a que está em vigor. Mais ainda, o Acordo Ortográfico, segundo o vice-presidente do Supremo Tribunal de Justiça é inconstitucional, derivado à forma absurda de como foi aprovado internacionalmente. Mas quer o sr “Nunca me engano e raramente tenho dúvidas” Cavaco Silva fazer o seu trabalho e defender a Constituição? Claro que não. Parafraseando o mesmo senhor, ele “jamais façaria” tal coisa. O que ele gosta é de produtos “láteos”! E este é o homem a quem deram um honoris causa de Língua Portuguesa… é o país em que vivemos! (tenho de descobrir qual foi a universidade para que, um dia que tenha filhos, não os deixar ir para lá!!)
Talvez se desse atenção a tais questões e actuasse sobre elas como é o seu mandato e segundo o juramento que prestou, ao invés de procurar controlar resultados eleitorais numa atitude continuamente sectária, o actual Presidente da República Cavaco Silva (que afirma que não cede a quaisquer pressões [pelos vistos nem as eleitorais] e antes das eleições já sabe o que vai fazer em termos de governo futuro... haverá maior confissão de se ser anti-democrático??) não precisasse de recorrer a certas leis que exigem respeito a símbolos nacionais para que o respeitem. Quando o outro senhor que foi multado por ousar dizer ao seu Presidente (que de facto trabalha para ele e para todos nós, ou devia assim fazer) que fosse trabalhar, se calhar era a estas coisas que se referia!!
Sendo que o AO90 falhou em cumprir qualquer um dos vários objectivos que justificariam eventualmente a sua existência, que nos foi imposto, que ainda em cima tivemos ou teremos de pagar e nem sabemos o valor na factura, que nos criou crispações nas relações com Moçambique e Angola, não tendo melhorado as relações com o Brasil, não acham importante essa consideração na altura de lançar o voto? Vão votar nos que dão mais importância aos interesses de algumas Editoras que aos interesses dos cidadãos ou vão castigá-los democraticamente, votando nos partidos que são contra o Acordo Ortográfico?
O maior destes últimos, e o único que já agiu contra o AO90 na Assembleia da República, é o PCP, que concorre coligado na CDU. É a quem vou dar o meu voto, por esta e outras razões.
Pensem nisso, ao lançarem o voto no próximo Domingo, dia 4 de Outubro de 2015!

P.P.S.: Tentei que me publicassem isto no Público, mas não obtive resposta por parte desse jornal. Não sei se por escolha editorial, se por escolha ideológica, se por inconveniência temporal visto que só mandei na quarta-feira passada.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Kaze Tachinu

Alegadamente, este será o último filme de Miyazaki, ou pelo menos este último voltou a anunciar, pela sexta vez, que se vai retirar do Cinema. Sendo sincero, e querendo primeiro “limpar a garganta” disso, devo alertar que, embora eu seja um admirador de Anime, não sou grande seguidor deste realizador. Particularmente, porque tenho a impressão que os filmes dele são muito feitos para crianças, enquanto que o que me atraiu para o Anime é que uma grande porção deste género é especificamente feita para adultos… e não, não me estou a referir apenas ao Hentai, seus tarado(a)s! Afinal, o Anime explora o fantástico, a ficção científica, mitologias e futurismos, de uma forma muito interessante, mas recorrendo às liberdades próprias da animação.
Contudo, este filme achei-o mais na tradição do Anime que eu admiro que na habitual fantasia “infantil-amigável”, quasi-paternalista do Miyazaki. Já o “Howl’s Moving Castle” deixava de lado o paternalismo e também com uma mensagem anti-guerra, verdade seja dita, embora ainda numa onda de absoluta fantasia. Mas este filme pretende ser mais realista, mais historicamente correcto e mais directo.
Acompanhamos a vida de um rapaz, o Hiro, que sonha com fazer aviões e cresce para se tornar num brilhante e dedicado engenheiro aeroespacial. Mas ele começa a sua actividade de escolha pela altura em que o Eixo do Mal original se está a formar, a aliança entre a Itália de Mussolini, a Alemanha de Hitler e o Japão de Hirohito, levando-o a exercer tendo em conta que irá fazer aviões para serem usados na guerra.
O filme é uma biografia ficcionalizada de Jiro Horikishi (1903-1982), o engenheiro responsável pelo Mitsubishi AM5 e o seu sucessor o Mitsubishi AM6 Zero, aviões que vieram a ser usados pelo Japão na II Guerra Mundial. O enredo é adaptado duma Manga homónima, escrita pelo realizador, que foi por sua vez ligeiramente inspirada num conto curto de 1937, escrito por Tatsuo Hori, e chamada "O Vento Elevou-se".
Ao longo do filme, encontramos um Japão inundado de pobreza, procurando desesperadamente “apanhar na curva” o então “mundo industrializado”, aspirando assim melhorar a sua riqueza interna e nível de vida. Uma lembrança interessante de que a austeridade normalmente precede a guerra. O filme lida então com questões morais, no sentido de que os que sonham em fazer belas máquinas voadoras têm de enfrentar o terrível facto de que elas irão primeiro ser usadas para o Mal. A certa altura, uma das personagens, um dos engenheiros, afirma que prefere “viver num mundo com Pirâmides”. É uma afirmação subtil mas que dá um enorme reforço a essa discussão moral que decorre no filme, uma vez que as pirâmides embora belas e um incrível testemunho do engenho e capacidade humanas, foram feitas com uso de trabalho escravo, por uma sociedade teocrática e totalitária. Ainda assim, sendo eu contra (e falo agora por mim) quaisquer tipos de escravatura e ditadura, também eu não gostaria de viver num mundo sem pirâmides e sempre que as vejo ser destruídas num filme, sinto-me enormemente triste. Continuando a falar de mim, e sendo que já fiz parte duma equipa que criou um protótipooriginal de avião telecomandado em miniatura, devo dizer que sei bem a alegriade vermos algo que nós ajudámos a conceber, construir e para o qual dedicámostempo e trabalho, voar é enorme e indescritível.
Este tipo de ideias assim subtilmente dando corpo e substância ao filme, a alusão à II Grande Guerra sem a abordar directamente, adicionadas a umas quantas de personagens que não sendo pró-guerra se vêm forçadas a dela participarem por força dos seus líderes, é uma óptima maneira de quase subliminarmente avisar as crianças para os perigos dos desejos de aumentar a nossa riqueza pela agressão para com os nossos vizinhos. O filme continua a ter fantasia, mas esta passa-se nos sonhos da personagem principal, encorajando o espectador a sonhar. Dessa perspectiva, eu tenho para comigo que este filme é possivelmente o melhor filme por Miyazaki, não só realizador mas também guionista, porque finalmente fala para as crianças não como crianças, mas como se elas já fossem adultas. Para mim essa é a maneira certa de falarmos como crianças e afirmo isto porque, já tendo sido crianças, bem sei o quanto odiava paternalismos das pessoas e desenhos animados fofinhos e desprovidos de qualquer maldade ou subtilezas realistas como, por exemplo, os Teletubies. Assim sendo, espero que este sexto anúncio de reforma não seja mais que o antecessor do sétimo e que o senhor Miyazaki continue a evoluir e a fazer belos filmes de anime. Porque independentemente da história, todos eles são belos.
Preciso ainda de dizer que achei, particularmente no início e pontualmente ao longo da obra, o filme parado, mas ganha bom ritmo à medida que passa do meio da sua duração e se aproxima do final. Gostei muito da história romântica que surge na segunda parte e que é toda ela trágica e adulta. Adorei as personagens, que estranhamente, à excepção de membros das polícias políticas dos regimes em questão, são todas boas pessoas, sendo a personagem principal um autêntico herói da vida quotidiana. Isto é, uma pessoa que está sempre no seu auge moral e trata os outros com todo o valor, independentemente do seu status social ou proveniência.
O Japão é também espectacularmente bem retratado, mais uma vez os tremores de terra são uma constante do sofrimento nipónico, e a cena do tremor de terra achei-a soberba.
Numa última nota, eu vi a versão dobrada em inglês e reconheci até Lars Von Trier a interpretar um alemão não nazi e que anda de facto a fugir da Gestapo, que é uma ironia deliciosa considerando toda aquela sua última controvérsia em Cannes, ainda não há muito tempo. Não reconheci a voz de Joseph Gordon-Levitt, muito para crédito deste último. Os desenhos animados, anime ou não, são das poucas coisas em que eu tolero a dobragem como substituto da legendagem, embora nem aí goste muito, por muito que perceba a questão económica. Há muito actor a precisar de emprego e esta é uma boa maneira de ganhar algum. É, para mim, a única boa justificação. É que eu aprendi inglês de forma nativa por ser criança num tempo em que nem os desenhos animados eram dobrados. E não fui o único e acho que é uma vantagem linguística que essa cultura da legenda traz aos portugueses e que deve ser defendida, embora não de forma fanática ou intolerante. Dito isto, o título em Português é uma tristeza... "As Asas do Vento"... é que não tem nada a ver com o título em Japonês e além disso é simplesmente patético. "O Vento Eleva-se" ou "O Vento Ergue-se" serviriam perfeitamente.
Em suma, um filme perfeito para os pais verem com os filhos e começarem desde pequeninos, quando se começa a torcer o pepino como diz o povo, a aprenderem sobre algumas das maiores asneiras da Humanidade, com as consequências das quais ainda vivemos, a ver se de futuro não cometemos os mesmos erros. É importante notar que este filmeestreou numa altura em que o Japão luta consigo mesmo para manter o artigo 9 dasua Constituição que impede formalmente o país de declarar guerra a outrospaíses, algo que eu já aqui abordei num post para o qual chamo novamente avossa atenção.


Como Post Scriptum e em jeitos de despedida, deixo-vos umas dicas de actividades para o futuro próximo.
Uma produção de Sandra Fanha, com realização de José Barahona, dia 27 de Junho no MU.SA (MUSEU DAS ARTES DE SINTRA), estreia "Vianna da Mota", numa projecção ao ar Livre (mais informações abaixo).




A Estação Espacial Internacional (ou ISS na sua sigla inglesa), uma adolescente de 15 anos feitos no ano passado, tem agora 4 "olhos" com os quais observa a Terra, sua avó/nossa mãe se quisermos personificar a coisa, numa experiência para escolher a marca e modelo de câmaras a usar de futuro nas suas operações. A NASA está a fazer live feed (ou seja a transmitir imagens em directo) na internet provenientes dessas câmaras, embora só se consiga ver quando a ISS está no lado diurno da sua rotação. (link aqui) Dura até Outubro.
Sayonara, tomodachi! ;)

quinta-feira, 19 de junho de 2014

GOJIRA

Recordar-se-ão os leitores assíduos aqui do Samurai que eu fiz em temos um post sobre as origens do Godzilla intitulado Hibakusha II: O Rei dos Daikaiju.
Desta volta, vou apenas limitar-me a fazer uma crítica de cinema relativa ao novo filme do Rei dos Daikaiju.
O filme chega-nos pela visão e direcção de Gareth Edwards, realizador que fez o filme “Monsters” que estreou em 2010 e captou a atenção dos cinéfilos de todo o mundo pois foi o primeiro a conseguir efectivamente criar no seu quarto todos os efeitos especiais digitais do filme, mas com a qualidade ao nível de Hollywood. Para aqueles de vocês que sejam fluentes em inglês sugiro-vos a entrevista que o Dr Mark Kermode fez ao então jovem realizador exactamente devido a esse feito, que vos deixo aqui linkada.
O novo “Godzilla” tem muito do carácter do filme de estreia do realizador, por isso é bastante interessante ver os dois filmes de seguida e por ordem de data de estreia. Ambos os filmes procuram centrar-se em personagens humanas, através das quais experimentamos uma Terra onde monstros enormes e poderosos existem abertamente e causam problemas aos humanos. Mas enquanto em “Monsters”, o filme não evolui dessa dinâmica, em “Godzilla” o próprio monstro torna-se uma personagem, pela qual começamos a torcer, e como que se torna mais importante que os humanos que temos anteriormente andado a seguir durante o filme. Considerando o título do filme, não só foi uma boa jogada, como era a única jogada de sucesso.
Uma outra coisa interessante em “Godzilla”, e que também o diferencia em “Monsters”, é o facto dos humanos surgirem literalmente como se fossem colónias de formigas desesperadamente a fugirem dum luta de dois humanos sobre a sua metrópole. É que neste filme os humanos nada podem contra os monstros, tal como as formigas nada podem contra humanos.
É notório nos bonecos relativos aos dois últimos filmes do Godzilla essa diferença. Na primeira adaptação americana, os bonecos que sairam eram tipo GI Joe, com os homens tão importantes ou mais que o Godzilla (figura à direita). Nesta última versão, os monstros é que interessam e os humanos estão lá como se fossem cenário (figura à esquerda).
Como não podia deixar de ser num reboot (recomeçar) da frandchise, que já agora já tem confirmada uma sequela com o mesmo realizador ao leme, a história procura reintroduzir o Godzilla e, portanto, é uma história de origem. Assim a origem do rei dos monstros é recontada. Acaba por não se distanciar muito do original, mas ao invés de ser um produto da radiação de bombas nucleares sobre animais, acaba por ter uma inclinação ecológica e dizer que estes monstros precederam os dinossauros e viviam num era onde a radiação à superfície terrestre era muito mais elevada. Assim, quando os americanos começaram a mandar bombas e muitos países a fazerem reactores nucleares, os sobreviventes ou descendentes dessas raças acordam de hibernação. Essa premissa, algo que defeituosa devido à escala de tempos envolvida, já foi antes usada para explicar os dragões em “Reign of Fire”, o meu filme favorito com dragões, mas depois encaixa bem numa explicação de cadeia alimentar que completa o sentido lógico da história.
A ideia de que há uma conspiração em que os governos estão a esconder algo das populações que dizem servir e toda a paranóia que acompanha essas ideias, talvez não tão descabidas quanto isso como a realidade nos mostra(refiro-me, por exemplo, ao programa de espionagem norte-americano), é muito bem instrumentalizada para dar corpo ao início do filme. Isso e uma certa consciência do horror do desastre natural de Fukushima e de como as uzinas nucleares quando destroçadas pela Natureza podem, literalmente, envenenar a Terra. Simplesmente, em vez de movimentos da crosta terrestre, o que causa a destruição são as alimárias pré-pré-históricas que dão mote ao filme. Mas o governo local ter de evacuar as pessoas de uma zona radioactiva, deixando vidas inteiras para trás, casas desprovidas de vida, mas cheias de memórias, completamente mobiladas, cidades inteiras tornadas urbes fantasmas, tudo isso surge abertamente reforçando a credibilidade do filme, recordando os terríveis acontecimentos do passado muito recente.
A única coisa que me chateou no filme, ou que achei idiota, foi os militares continuarem a armar-se com metralhadoras e pistolas quando já sabiam o que enfrentavam e que nem bombas nucleares os matavam. Algo que estúpido. Os militares não têm a tendência de carregar armas desnecessárias.
Também achei desnecessário a ida para São Francisco. Aquela ponte já foi mais vezes destruída nos filmes que o cagar da ameixa, passo a expressão, e não era necessário americanizar mais ainda o filme.
Quanto ao boneco, o Godzilla está engraçado, uma mistura de gorila e dragão de Komodo. Embora eu não me junte nem ao grupo que odiou a versão anterior do Godzilla, a que os japoneses chamaram só Zilla porque acharam-no muito pequeno ahaha, nem ao grupo que achou este Godzilla gordo (parece que assim aconteceu entre espectadores nipónicos… nunca estão satisfeitos ahaha), não desgostei desta nova encarnação e o CGI está bem feito e não temos a sensação de falta de peso no boneco, tal como ela não havia no filme do Guillermo Del Toro “Pacific Rim” (ler a minha crítica a esse filme aqui) com os seus kaijus e robots gigantes (criticado por mim aqui). E isso e o sentido de escala é o essencial nestes filmes.
Gostei da banda sonora e do tom negro e mais sério do filme, que contrasta com a versão americana anterior. Os actores estão todos de parabéns, sem que haja nenhum que sobressaía durante o filme, excepto talvez o próprio Godzilla. A cena da qual se vê um pouco no trailer do salto HALO é magnífica num grande ecrã.
Resumindo, é um óptimo filme, próprio para qualquer idade e que merece o grande ecrã. Eu vi em 2D e IMAX. Não me parece que o 3D lá contribua nada, para além da eventual coisa pontiaguda a sair do ecrã, mas como não vi em 3D não afirmo, só suspeito. Aguardo com altas expectativas (o que nunca é bom) a continuação.
De salientar, numa outra nota, que o Godzilla tem agora um planeta com o seu nome!
E, para os mais nerds de nós, eis também uma curiosidade, da qual o mérito não é meu, sobre quando estreou o primeiro filme do Godzilla, o original japonês, em Portugal, ainda nos dias do Estado Novo e com um título idiota:
Se tiver tempo e pachorra, traduzirei aquele vídeo da entrevista do Kermode ao Edwards e depois linko-o aqui também!
Para lá do filme e como já não venho cá há demasiado tempo, deixo-vos aqui também umas actividades para este fim-de-semana e para o resto do mês:
-. esta sexta e este sábado, 20 e 21 respectivamente de Junho, a iniciativa 24 Horas, no Pavilhão do Conhecimento. Notem que o site está sem Acordo Ortográfico... yeah!! :D
- sábado, dia 21 de Junho, a partir das 16h, no Jardim do Japão em Belém, para lá da Torre de Belém, à beira Tejo e ao lado do CCB, a Festa do Japão terá novamente lugar:
-  uma oportunidade para os que tiverem condições para isso, até dia 25 de Junho ainda se podem inscrever nas bolsas para estudar no Japão. Toda a informação no link abaixo:
- por último, uma produção de Sandra Fanha, com realização de José Barahona, dia 27 de Junho no MU.SA (MUSEU DAS ARTES DE SINTRA), estreia "Vianna da Mota", numa projecção ao ar Livre (mais informações abaixo). "Um músico prodígio nascido no século XIX...":
E por hora me despeço, senhoras e senhores, irmãos e irmãs, camadaras e amigos, que amanhã tenho um dia inteiro de despedida de solteiro do meu melhor amigo, do qual tenho também a honra de ser padrinho de casamento. E para isso, com'é lógic' (grande Jorge Jesus!!), não vos convido.
Sayonara, tomodachi! ;)

quinta-feira, 27 de março de 2014

Viva o Teatro!!

Hoje foi o Dia Mundial do Teatro.
Embora eu seja da opinião que um destes dias teremos um problema do caraças e teremos de voltar a alterar os nossos calendários, ou mesmo a reestruturá-los (como a dívida, ‘tão a ver?), porque já não teremos dias suficientes para todas as coisas cujo celebrar queremos consagrar com um dado dia, este é um dia que eu acho importante celebrar. E porquê?
O teatro é parte integrante de ser humano. Não, não estou a exagerar. Quando em pequenos fazemos birra, explodindo em choro por vezes sem razão nenhuma só para conseguirmos o que queremos, que é isso se não um teatro? Quando mais tarde pegamos em bonecos, utensílios de brincar ou apenas na nossa imaginação e nos tornamos em personagens de aventuras imaginárias que nos ajudam a passar o dia e também a crescer e a aprender, que mais estamos a fazer se não teatro? E mesmo não fazendo parte daquela classe que ainda em adultos têm o privilégio de continuar a brincar ao faz-de-conta, sendo para isso pagos, todos nós continuamos a ambicionar essa magia que nos pode levar a fazer rir, chorar, saltar de pavor, deixar melancólicos ou inspirar a mudar a nossa vida, essa magia do faz-de-conta que nos traz ao de cima a criança que há em nós.
Pode ser que o cinema e as séries televisivas sejam uma forma de teatro moderna, mas todos facilmente reconhecemos que no teatro dificilmente há take 2 e que se as coisas correm mal, ou o actor dá a volta rapidamente ao texto e os seus colegas o acompanham ou tudo falha. Para além disso, a relação entre o público e a plateia é íntima e não distante como as dos grande e pequeno ecrãs. Se é uma comédia que está a ser encenada e não há risos na plateia, isso afectará negativamente o desempenho do actor. O inverso é também verdade. Gera-se assim um espectáculo que é influenciado pela empatia humana. É essa ligação empática, quasi-telepática, que separa o teatro do cinema e da televisão. Além de que, claro está, o teatro é milenar e o cinema não mais que centenário.
Também passam teatro na televisão, por exemplo na RTP Memória as revistas à portuguesa ou mesmo os episódios de Wrestling importados dos EUA. Mas não é a mesma coisa. Falta a empatia. Eu percebi isso, estranhamente, graças ao Youtube. Descobri em 2012 que haviam encenado um musical de um dos meus filmes de culto favoritos, The Evil Dead. Procurei no Youtube e encontrei a peça em questão, isto é, encontrei uma videogravação da mesma. Embora a peça tenha feito imenso sucesso, embora eu goste de teatro, de musicais e do material fonte, não consegui achar piada àquilo em vídeo. Faltava a empatia, a atmosfera.
Eu já pisei um palco amador uma vez, ainda muito novo, e quase por achar que tinha algo a provar… a coisa correu mal e jurei para nunca mais. A minha fez teatro amador na sua juventude e ao que parece o meu avô, seu pai, também. Eu sempre preferi encenar peças com os meus bonecos. Mas até já essa capacidade perdi. Resta-me ver teatro… nem que seja o Sócrates, o Passos, o Seguro e o Portas, actores que seguem o Método sem dúvida, a mentirem ao país. É mau teatro, é pior que amador, é reles, mas é teatro ainda assim.
É trágico que tenhamos, já que toquei na política, um Presidente da República que vê um enorme potencial na Língua Portuguesa (ideia errónea que desmascararei quando voltar a falar do Acordo Ortográfico de 1990, me aguarrrdem!), um enorme potencial do Mar (no qual nada faz para que neste se invista, sendo que já tenha no passado feito muito para remover qualquer investimento nesta área), mas que não reconhece o imenso potencial económico das artes cénicas. Sim, porque se isto da dinheiro na Broadway, também o pode dar cá. Tal como o Cinema, já agora. Mas para a Direita Portuguesa, a cultura mais não merece que uma mísera Secretaria de Estado e os actores mais não são que “prestadores de serviços”. Quando este governo tomou posse, um dos seus membros originais veio anunciar que a guerra de classes havia acabado. Para tal, este governo prontificou-se a acabar com as classes. Quase o conseguiu: destroçou ou afugentou a parte da classe média que sobrevivera ao jugo de Sócrates e eliminou toda uma classe (a dos actores) despojando-os para efeitos fiscais do seu nome de classe, tornando-os indistintos prestadores de serviços. O Ruy de Carvalho, que cometeu o erro deneles votar, que o diga.
Verdade seja dita que não é só o Ruy (e trato-o assim porque além de individuo de pleno direito, o senhor é um tesouro nacional, o que o faz um pouquinho de todos nós) que se queixa, na minha opinião com razão, mas várias gerações de actores.
Dá vontade de desejar muita merda aos nossos governantes e aos seus mesquinhos e curtos horizontes, subjugá-los a uma forçada emigração por via de uma chuva de patacas furibundas! Hey, o teatro sempre serviu para castigar os costumes e satirizar a sociedade, revelando-lhe os podres, certo? 
Já agora, sabeis acaso, caro leitor, porque é que é de bom tom desejar muita merda a um profissional do teatro que tenha uma peça a estrear? Parece que em tempos idos, a nobreza ia ao teatro de coche. Se a afluência a um dada peça fosse grande, a entrada do teatro em questão ficaria ladrilhada de merda de cavalo. Este hábito de merdoso mas simpático desejar foi mais uma importação francesa do séc XIX.
Como disse o José Hermano Saraiva, em relação a um dos 12 trabalhos do Hércules que consistia em limpar os estábulos dos deuses: “Meus amigos, era muita bosta!
Mas a culpa é também nossa, do povo. Ah pois é! Antes de mais por, em geral nós (embora voto meu, e eu voto, jamais tenha eleito um governo), elegermos paspalhos sem ideias nem cultura, nalguns casos que se fazem até chamar de doutor sem nem uma licenciatura terem, que a troco dumas migalhas das grandes cortes europeias e duma boa próxima vida após a chamada “morte política” prontamente se predispõem não só a estragar o nosso país como a enterrar a nossa cultura e identidade. Depois, porque não vamos ao Teatro, não apoiamos Cinema Português, etc… Agora é da crise, que até é uma boa justificação, mas e nos tempos das vacas gordas, porque é que os teatros eram tão pouco frequentados em terras lusas? Em Torres Novas, de onde oriundo, havia um teatro que no meio tempo era cinema (foi onde de facto vi tanto o meu primeiro filme e a minha primeira peça de teatro, de que me lembre), que passou muitos anos fechado e abandonado, e foi recentemente recuperado pela Câmara, mas é muito pouco usado. E contudo, na minha adolescência, tive a felicidade de quase todas as semanas ir ao cinema, ver um filme que estreava.
A imagem acima foi retirado do facebook de uma jovem actriz, que é também a miss CPLP 2013, a qual eu já tive o prazer de ver ao vivo, numa peça, podendo assim afirmar-vos que é bem mais que uma carinha laroca, até porque é excelente com uma máscara!
Embora muitas destas imagens exibam manequins vestidos com kimonos tradicionais japoneses, as fotos foram tiradas no palco do Teatro Nacional Dom Carlos, o qual visitei em 2012. As fotos das e sobre as patacas também vieram de lá.



Antes de começar a falar do teatro japonês (porque afinal o blog é centrado no Japão), queria só, uma vez que é o Dia do Teatro, falar-vos duma iniciativa bem portuguesa que em tudo me agrada e que está relacionada com a imagem que abre este post. Refiro-me ao restauro do Palácio do Bolhão, no Porto, pela a Academia Contemporânea de Espectáculo, em prol do Teatro do Bolhão. Nesta iniciativa, sobre a qual melhor se podem informar no link abaixo, procura-se, ao mesmo tempo que se dá uma casa à nobre arte, restaurar um monumento nacional. Poderá haver causa cultural mais digna de ajuda? Em troca de pequeno contributo monetário, podem ver o vosso nome imortalizado num palácio da Invicta. Acho que é uma muito bela troca, se bem que injusta para a iniciativa em si que recebe apenas dinheiro. ;) 


Na Língua Japonesa (e segundo o tradutor da Google), Gekijō (劇場) é como se diz Teatro (Link para ouvir Pronúncia – vale a pena, pois parece quase um bramido de ovelha). Como em todas as grandes civilizações, o teatro é central na cultura nipónica, tendo evoluído, tal como no caso português, em várias formas: o Noh, o Kabuki, o Bunraku e ainda o teatro negro (não se preocupem, nada tem de racista eheh).
O teatro Noh, cujo nome deriva da palavra sino-nipónica para “perícia”, é uma das principais formas clássicas de drama musical japonesas, e é encenada desde pelo menos do século XIII D.C, sendo que a sua forma actual começou no período Muromachi. Muitas das suas personagens estão mascaradas e os actores, sempre homens, interpretam tanto papéis masculinos como femininos. Tradicionalmente, um “dia de teatro Noh” dura mesmo todo o dia e consiste em cinco peças Noh, intercaladas de peças Kyogen, peças mais curtas e humorísticas cujo o nome quer dizer literalmente “palavras loucas” ou “discurso selvagem”. Presentemente, o teatro Noh consiste em apenas duas peças Noh, intercaladas por uma peça Kyogen. É um campo de teatro muito codificado e fortemente, regulado pelo sistema Iemoto, que dá prioridade à tradição em detrimento da inovação. Mesmo assim, há quem faça reviver peças antigas e já abandonadas, há quem componha peças novas e mesmo quem crie peças que mescle esta variante com outras suas pares.
O teatro Kabuki, composto pelos kanji (cantar)(dançar)(habilidade), sendo por vezes traduzido de forma simplista para “a arte de cantar e dançar”, consiste numa forma muito estilizada de drama, com ênfase na maquilhagem dos artistas. Julga-se que o nome derive do verbo japonês Kabuku, que pode significar “encostar” ou “ser fora do vulgar”, sendo assim uma arte teatral que executa peças bizarras ou experimentais, a vanguarda do teatro tradicional japonês. De facto, o termo kabukimono é usado para designar pessoas que tenham uma forma bizarra ou fora da norma de se vestir no sei dia a dia. É muito mais novo que o Noh, tendo sido originado no século XVI D.C., período Edo da História do Japão, quando Izumo no Okuno, uma sacerdotisa do Shintoísmo, em 1603 começou a desempenhar uma nova forma de dança nos leitos secos dos rios, em Quioto. Este é portanto o polar oposto do Noh, tendo actrizes a desempenhar os papéis masculinos e femininos do quotidiano nipónico. Um dos factores que tornou esta forma teatral muito apelativa foi o facto de muitas das trupes que a desempenhavam estarem receptivas à prostituição. De facto, o kabuki tornou-se norma no red light district de Edo, capital do Japão, actualmente conhecida como Tóquio.
O teatro Bunraku, também chamado Ningyo Joruri, é a versão japonesa de uma peça de marionetas. A componente física desempenhada pelos mestres de marionetas, designados de Ningyotsukai, é acompanhada de uma componente musical, os cantadores chamados Tayu e os tocadores de Shamisen (espécie de banjo japonês). Por vezes, também juntam tambores taiko à peça. A combinação do canto acompanhado pela melodia do shamisen é chamada de joruri e ningyo quer dizer marioneta. Já o termo Bunraku surge do nome de um teatro muito conhecido no Japão por exibir esta arte.
Por último, quero ainda referir o Teatro Negro, cuja técnica pode também ser usada no Bunraku para colocar toda a atenção nas marionetas, e sobre o qual deixo um exemplo em baixo, porque é deveras difícil de explicar por palavras!
Isto foi só um lamiré, porque cada um destes estilos é um mundo, e o mesmo pode ser dito das formas ocidentais, o drama, a comédia, a sátira, etc… Um dia destes, aprofundarei, num post para cada uma, as formas japonesas aqui para o blog. Quem sabe se não inspiro algum encenador a fundir alguns dos seus elementos com os nossos estilos? Ao mesmo tempo, continuarei a veícular esta e outras iniciativas em prol da cultura e das artes.
Viva o Teatro, onde a arte não só imita a vida, como está viva, e como toda a vida merece ser protegida!


E agora para vos despachar com bom humor, tomodachi, fiquem com um teatrinho radiofónico, cortesia do Nuno Markl e da malta das manhãs da Comercial.
Sayonara... por agora!